17.5.19
Com o presidente da Câmara do Porto dono de uma imobiliária e o presidente da Assembleia Municipal gestor de fundos imobiliários, interrogo-me se devemos ou não esperar que a visão que o executivo camarário tem da cidade, seja diferente da do negócio imobiliário.
O texto que se segue e a fotografia que o ilustra, são da autoria de Jorge Ricardo Pinto*. Estão publicados aqui.
«O edifício representa, na verdade, um tempo, uma arquitectura e uma forma de fazer cidade e o seu desaparecimento empobrece a diversidade estilística e temporal do Porto, bem como reduz a dimensão pedagógica e a compreensão histórica da rua de Pinto Bessa".
Retirei este trecho de um livro que publiquei pela Junta de Freguesia do Bonfim, em 2011. Referia-me à ameaça de demolição que pairava sobre o edifício que então se localizava no 498 da rua de Pinto Bessa, no Porto, na posse da "Norma - Empresa Técnica Construtora". Era, no fundo, a crónica de uma morte anunciada.
A moradia havia sido erguida, em 1913, a pedido do Comendador Manuel de Miranda Castro, e foi desenhada pelo arquitecto portuense Francisco de Oliveira Ferreira, discípulo de Marques da Silva e Teixeira Lopes. Oliveira Ferreira foi o autor, entre outras obras, da icónica Clínica Sanatorial Heliantia e da Câmara Municipal de Gaia, para além de ter tido uma diversificada actividade cultural, entre a realização de exposições, trabalho arqueológico e de reconstituição histórica.
Soube hoje que a moradia, um exercício eclético entre a arte Nova e a influência da arquitetura tradicional portuguesa, com belos frisos de azulejos e um torreão, foi demolida há uns dias, depois de autorização camarária datada de Janeiro de 2019 para "Construção de Edifício destinado a Comércio e Habitação Coletiva (20 Fogos)". Coisa pequena, portanto...
Quero fazer notar, todavia, que este edifício integrou, em tempos, o PDM do Porto, na lista dos imóveis de interesse patrimonial.
Entretanto, surpreendentemente, a moradia foi retirada dessa listagem (já não surge na última versão do PDM), no que foi acompanhada por alguns outros imóveis no Bonfim, entretanto demolidos, como o "Bloco Residencial Manuel Duarte", do arquitecto Januário Godinho, na rua de Santos Pousada, apeado em 2006; ou o edifício multifuncional (residência, escritório, armazém, fábrica) requerido por João da Fonseca Carvalho, nos anos 30 do século passado, na Avenida Fernão de Magalhães, recentemente demolido para a construção de um hotel.
Um outro imóvel da mesma freguesia que também foi retirado da mesma lista foi a Quinta Amarela (ou dos Cepêdas), junto à Avenida dos Combatentes, nas Antas, para onde, aliás, a mesma empresa "Norma - Empresa Técnica Construtora" tinha projecto, assinado por Souto Moura. Coincidências.»
* Geógrafo, professor na UTAD.
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- Carlos Romão
- Uma vida ao serviço da comunicação empresarial, como fotógrafo, videógrafo, designer gráfico e redactor publicitário.
Já era hora de que uma pessoa com conhecimento de causa desse a conhecer as misérias desta grande e bela cidade, pois também as tem. Mas isto não é o que vão ver os turistas.
ResponderEliminarSe continuamos a destruir o nosso patrimonio artistico cultural, com que ficaremos?
Só agora pude vir até aqui pois não podia entrar e comentar o teu blog.
Carlos, um grande abraço